ANÁLISE CRÍTICA
Por Dilma de Carvalho
Para além de enriquecer o
vocabulário brasileiro, textos que abordem a cultura dos originários e tragam à
tona as questões ambientais, vividas com mais ênfase no século XXI, devido à
destruição dos recursos naturais por meio do desmatamento e do processo de
subversão dos valores éticos, morais, religiosos e financeiros, são de muita
importância para a manutenção das culturas, através da valorização da memória
dos mais velhos, em função da transmissão de conhecimentos aos mais jovens.
Analisando do ponto de vista literário, um livro que traga, em sua essência divisória, textos curtos, de fácil domínio popular e que tenham a clássica intenção de atrair, conquistar e manter o leitor atento e curioso pelos desfechos, faz o elo perfeito com o público alvo a que se destina Muritaê.
São pequenos capítulos, com
diversidade de personagens e contos/causos contados por indígenas que alinhavam
a necessidade da manutenção de histórias perspicazes com o fazer artístico de
narrar/escrever de modo simples, direto e para uma juventude, hoje, mais
antenada com a velocidade da luz do que com o desenvolvimento catedrático do
ato de ler.
Há em Muritaê
características literárias do conto (texto curto) com tempos e espaços
diversos, próprios do romance. Enquanto desenvolve um enredo sobre as culturas
indígenas afasta-se do Indianismo propagado pelos nossos clássicos escritores
do Romantismo brasileiro (1836) que se caracterizou pela busca de uma
identidade nacional e pelo resgate das tradições da cultura e do folclore
populares, porém, sem se atentar para as individualidades e para o protagonismo
dos povos originários como detentores de uma história verdadeira.
Além das características de um
indianismo real e atual – povos originários pertencentes à cultura brasileira
como qualquer outro povo, ressignificando termos como indígena, ao invés
de índio para se referir ao povo, aldeia, ao invés de tribo, para se
referir ao seu habitat, Muritaê também traz a reflexão pedagógica da
necessidade de preservação da natureza como real fonte de vida, da natureza que
alimenta, mata a sede, abriga, acolhe o nascer das vidas e guarda a semente do
renascer, em seu útero “recíclico”.
Leitura leve, “enredadora”,
educativa, e, acima de tudo, fiel aos seus contadores legais.
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