23 de abril de 2025

Muritaê

ANÁLISE CRÍTICA 

Por Dilma de Carvalho 

As histórias narradas em Muritaê são ricas de vocabulário, uma linguística que aguça a curiosidade por conhecer mais a cultura dos povos ancestrais/originários do Brasil. Além do farto conteúdo que explora o linguajar indígena, mostra sua influência no vocabulário utilizado por qualquer nativo brasileiro, pois, está enraizado na cultura de todos os povos, mesclando-se aos diversos dialetos que passaram pelo Brasil, desde sua redescoberta pelos europeus portugueses até os dias de hoje.

Para além de enriquecer o vocabulário brasileiro, textos que abordem a cultura dos originários e tragam à tona as questões ambientais, vividas com mais ênfase no século XXI, devido à destruição dos recursos naturais por meio do desmatamento e do processo de subversão dos valores éticos, morais, religiosos e financeiros, são de muita importância para a manutenção das culturas, através da valorização da memória dos mais velhos, em função da transmissão de conhecimentos aos mais jovens.

Analisando do ponto de vista literário, um livro que traga, em sua essência divisória, textos curtos, de fácil domínio popular e que tenham a clássica intenção de atrair, conquistar e manter o leitor atento e curioso pelos desfechos, faz o elo perfeito com o público alvo a que se destina Muritaê.

São pequenos capítulos, com diversidade de personagens e contos/causos contados por indígenas que alinhavam a necessidade da manutenção de histórias perspicazes com o fazer artístico de narrar/escrever de modo simples, direto e para uma juventude, hoje, mais antenada com a velocidade da luz do que com o desenvolvimento catedrático do ato de ler.

Há em Muritaê características literárias do conto (texto curto) com tempos e espaços diversos, próprios do romance. Enquanto desenvolve um enredo sobre as culturas indígenas afasta-se do Indianismo propagado pelos nossos clássicos escritores do Romantismo brasileiro (1836) que se caracterizou pela busca de uma identidade nacional e pelo resgate das tradições da cultura e do folclore populares, porém, sem se atentar para as individualidades e para o protagonismo dos povos originários como detentores de uma história verdadeira.

Além das características de um indianismo real e atual – povos originários pertencentes à cultura brasileira como qualquer outro povo, ressignificando termos como indígena, ao invés de índio para se referir ao povo, aldeia, ao invés de tribo, para se referir ao seu habitat, Muritaê também traz a reflexão pedagógica da necessidade de preservação da natureza como real fonte de vida, da natureza que alimenta, mata a sede, abriga, acolhe o nascer das vidas e guarda a semente do renascer, em seu útero “recíclico”.

Leitura leve, “enredadora”, educativa, e, acima de tudo, fiel aos seus contadores legais.

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