21 de outubro de 2012

Mundo circular Kariri-Xocó


Por Nhenety Kariri Xocó

Nós, indígenas Kariri-Xocó, do município de Porto Real do Colégio, em Alagoas, somos na realidade, um grupo de origem pluriétnica. Nossa formação vem da resistência dos Kariri, Aconã e Karapotó no século XVII, dos Tupinambá e Natu no século XVIII e dos Xocó no século XIX.

Nosso universo representa-se em forma de círculo. Nossa visão cultural é de um “Horizonte Circular”, de cor azul, com a Aldeia Kariri-Xocó no centro, a natureza ao redor e o Rio São Francisco passando pelo meio e completando o ecossistema.

Nossa aprendizagem é baseada em círculos evolutivos. Por exemplo, para ser um pescador, inicia-se a aprendizagem com a criança fazendo artefatos de pesca, construindo anzóis, redes e armadilhas. O pequeno índio torna-se assim, hábil pescador adulto, fechando o círculo da pesca. Para ser uma ceramista, a menina aprende com a mãe a arte de modelar o barro, as técnicas tradicionais de confeccionar potes e panelas e pintar os objetos. Mas a sua aprovação como ceramista é quando se torna adulta, dominando toda a arte e fechando, assim, o círculo da cerâmica. O território tradicional é sagrado para nosso povo e tudo é diferente em comparação a outros lugares: o Sol, a Lua, as estrelas, as nuvens, a chuva, as serras, tudo...

No passado, o homem branco fez muitas perguntas: - Qual o tamanho da terra? Qual o limite? Qual a forma do território - quadrado ou redondo? Qual o marco divisor?
E o índio respondeu: - O Sol nasce e se põe em nossas terras; a linha do horizonte é o limite, onde o céu se encontra com a terra, de forma circular porque o nosso mundo é redondo.

É que antigamente, nosso povo circulava por todo esse território, morando aqui e ali, acompanhando as caças e dando nomes aos lugares. Se um gavião cantasse no momento em que nossos ancestrais avistavam uma serra, logo davam o nome de “Serra do Gavião”. Se eles vissem uma onça entrar numa gruta durante a caçada, chamavam o local de “Gruta da Onça”. Uma lagoa com muitos jacarés denominavam “Lagoa do Jacaré”.
Nossa terra está toda registrada por nosso povo com nomes associados à fartura, alegrias e tristezas. Ela traz nossa cultura e o seu tamanho está de acordo com as nossas necessidades físicas, biológicas e culturais. A área de ocupação tribal não se limita à aldeia, ao lugar de habitação.

Nosso território vai muito além, incluindo áreas de roça, pesca, fruta, fontes de barro para cerâmica e onde estão as caças. O rio é sagrado porque lá vivem os piaus, as xiras, os mandins, os pitús, as tartarugas. A mesma importância tem o lugar onde moram as abelhas, as araras, os macacos, as antas, as cutias, os porcos-do-mato. Os ninhos de aves e pássaros são locais importantes para nossa cultura pela necessidade das penas para os cocares. Os canteiros naturais onde encontramos a macambira, por exemplo, são vitais por serem bancos de ervas medicinais para o nosso povo.

Florestas, lagoas, várzeas, brejos, ilhas, enfim, todos os lugares são especiais. A natureza sempre organizou o território tribal e assim, deveríamos seguir a evolução natural.
Mas tivemos que resistir à muita violência. Antes do contato com os brancos, o Território Indígena Tradicional Kariri-Xocó abrangia 3.017 Km², o que ocupava as duas margens do Rio Opara (nome indígena do Rio São Francisco) e se mantinha como um círculo no horizonte, onde a terra se encontrava com o céu, com o Rio, com a floresta atlântica, a mata de caatinga, lagoas e várzeas.

Nosso território físico atual nos oprime, mas um território maior e mais rico ainda está vivo em nossa memória. Com fé e luta, recuperaremos nossas terras


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5 de agosto de 2012

Povoação de São Brás

São Brás, 1860.
Foto: Coutinho, August.
A cidade de São Brás nasceu de uma povoação, cujo território inicialmente pertencia a Porto Real do Colégio. A Lei nº 1.506, que data de 28 de junho de 1889, elevou a localidade à categoria de vila, desmembrando o lugarejo do município ao qual se achava subordinado, sendo instalado oficialmente o seu governo em 1º de outro do mesmo ano, ocasião em que possuía um único distrito.


Referência
Eles fazem Alagoas. Editora Jornalística Manchete dos Municípios Ltda. Jaboatão, PE, p. 553, 1986.
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18 de julho de 2012

Rey & Reinaldo



Rey & Reynaldo é a primeira dupla sertaneja indígena que se tem notícia. Todas as dez composições são de autoria deles. Várias foram as dificuldades para a produção desse cd, mas foi na gestão do ex-prefeito Eraldo Cavalcante Silva, através da Secretaria de Educação, que o cd foi produzido.

Rey & Reynaldo são dois índios da tribo Kariri-Xocó localizada às margens do rio São Francisco, na cidade de Porto Real do Colégio – Alagoas. Essa dupla lançou seu cd em junho de 2002, apresentou-se no ginásio poliesportivo de Porto Real do Colégio neste mesmo ano e em várias cidades alagoanas e outros estados. O cd contém dez faixas e ritmos que vai do xote ao country. 

Contato: (82) 9907-1007, 9961-2652 e 3553-1629.
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4 de julho de 2012

Nego d'água

Muitas sãos as estórias que se contam a respeito da Mãe d’água e do Nego d’água e na web não faltam textos que lhes atribuam várias características.

Irei, no entanto, transcrever as palavras de Lima, onde este faz uma descrição desse ser de acordo com a contação colegiense. Segundo ele, a Mãe d’água é de menor estatura e não possui nenhum pelo no corpo. Já o Nego d’água apresenta algumas características físicas dos homens: possui pele escura, corpo peludo, pescoço anormal e é careca.
Quando os pescadores não os respeitam, quebram as canoas deles a pedradas. Vivem no fundo do rio em companhia dos peixes e quando vêem o gênero humano, esconde-se nas águas. Tanto um como o outro gostam das pedras e aparecem poucas vezes. Assustam os pescadores para se protegerem.

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12 de junho de 2012

Faustino Vieira Sandes

A primeira penetração na suas terras (Água Branca), deve-se a três irmãos da família Vieira Sandes, procedentes de Itiúba, uma povoação localizada à margem do São Francisco, que nos dias de hoje, pertence ao município de Porto Real do Colégio. Em 1769, mais ou menos, as propriedades compreendidas nas sesmarias que correspondem aos atuais municípios de Mata Grande, Água Branca, Piranhas e Delmiro Gouveia, foram arrematadas em leilão realizado na cidade do Recife, ocasião em que se encontrava de posse das terras, por arrendamento, o capitão Faustino Vieira Sandes, membro da família Sandes, de Água Branca. Tal senhor foi a primeira pessoa a desbravar as terras do município, atraído às suas paragens pelos bons pastos na zona da caatinga, como também pela riqueza da região serrana, onde a exuberância do solo e a fertilidade do mesmo, favoreciam o desenvolvimento de lavouras, como a da cana-de-açúcar,mandioca e dos cereais. Assim, o capitão Faustino Vieira fixou-se no lugar, instalando em seguida uma fazenda de gado, tempo em que se registraram os primeiros núcleos de povoamento. 



Referência:

GALVÃO, Paulo et all. Eles Fazem Alagoas. Editora Jornalística Manchete dos Municípios Ltda. p. 19-20 Jaboatã/PE, 1986.
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16 de maio de 2012

Rôndone Ferreira dos Santos


“(...) encontrei a moringa que resolvi decorar. Uma peça tão comum aqui, usada antigamente para guardar água e mantê-la fria, mas que representa a cultura do povo nordestino. Hoje em dia ela é pouco usada, pois a modernidade representada pela geladeira já chegou a todo canto e a moringa vai deixando de ser utilitária e pode desaparecer, porém decorada pode decorar ambientes e fazer-nos lembrar de sua importância cultural na vida do povo nordestino”.
Rôndone Ferreira Santos
Rôndone Ferreira Santos, natural de Porto Real do Colégio, Alagoas é missionário da Tradicional Igreja Batista do Brasil. Viveu por dez anos no Amazonas, trabalhando entre o povo indígena Kanamari. Nela desenvolveu algumas técnicas de pintura e para homenagear aquele povo, pintou várias telas contendo informações do cotidiano amazônico. Suas telas estão catalogadas no Sistema Júlio Louzada de Artes Plásticas Brasil, Filiado ao SINAP-ESP AIAP/UNESCO.
 
Expôs algumas de suas telas em Araçatuba – São Paulo; Aracaju - Sergipe e Própria, cidade ribeirinha que faz divisa como o estado de Alagoas.
As imagens de suas telas estão disponíveis na Artelista que é um site líder mundial nessa categoria dirigida para particulares, sendo o maior catálogo internacional de obras de arte. Mantêm o blog Art&cia como sua galeria virtual.
Atualmente, na cidade de Porto Real do Colégio, em Alagoas, trabalha com a comunidade local  e na aldeia dos Kariri-Xocó, ministra curso de artes, dedicando-se ao projeto: Epafrodito, em parceria com a igreja Batista e a Missão Exodus de Salvador-BA.
Contato através deste e-mail: rondartecia@hotmail.com.
Para conhecer melhor as atividades de Rônodone, acesse: http://artecia-artecia.blogspot.com.br/,
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6 de maio de 2012

Orlando Santos

Colheita de Arroz

“O cubismo é uma temática versátil, de grandiosidade e movimento muito marcante da arte. Meu trabalho é influenciado por mestres como Picasso, Portinari e Di Cavalcanti”.
Orlando Santos


Orlando Santos nasceu em Porto Real do Colégio – Alagoas no dia 10 de novembro de 1959. Filho de Antonio Oliveira Silva e Edite Santos Silva. Estudou artes na Fundação Pierre Chalita, em Maceió e na Escola Nacional do Desenho em Porto Alegre.

Fez várias exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Em 2003, apoiado pela gestão do ex-prefeito Eraldo Cavalcante Silva, ministrou uma Oficina de Artes, denominada: Descobrindo Talentos na cidade de Porto Real do colégio, promovido pela Secretaria Municipal de Educação. Essa oficina foi realizada no antigo Grande Hotel. Até a presente data é possível presenciar várias pinturas na parte interna do prédio onde eram realizadas as aulas.
 
[1]Segundo Lima, Orlando “(...) trabalha com óleo sobre tela, expôs pela primeira vez, em 1982 no Teatro Deodoro. Em sua trajetória, Orlando Santos conta que visitou e experimentou várias tendências e estilos – do Realismo ao Impressionismo, passando pelo Expressionismo, mas encontrou-se, finalmente, nas linhas Cubistas numa espécie de propriedade de descrever a realidade objetiva e subjetiva sob a ótica da Geometria Plana. Inspirado em Picasso e Portinari garante, no entanto, que a referência não o impede de respirar seu próprio ar e refletir sua própria luz, produzindo uma obra feita com a alma”.

Contatos:
Fone (82) 8858-9804
e-mail: orlandosantos@yahoo.com.br




[1] LIMA, Ronaldo Pereira de. Às Margens do Rio Rei. Aracaju, Editora J. Andrade, 2006.
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27 de abril de 2012

Letra do hino municipal: 2ª colocada

A letra do hino municipal, segunda colocada do concurso realizado pelo fórum Dlis, de autoria de Múcio Niemayer Feitosa possui cinco estrofes e um refrão.

A estrofe um trata de aspectos físicos do colégio jesuítico e das enchentes do Rio São Francisco, como pode ser observadas nos versos transcritos:
Sobre pilares que o punha
Ao abrigo das grandes enchentes
Tu foste construído e se fez
Soberano a nossa gente.

A segunda fala de um suposto nome “verdadeiro” para a cidade, mas refutado pelas referências mais antigas. Quanto a expressão rio rei, esta foi emprestada do dr. Aberlado Duarte, na obra Três Ensaios, onde defende a ideia de realeza incluída ao nome da cidade.
A vista do imenso Brasil
Um Colégio do Porto
Real para enaltecer
O glorioso rio rei
 
A terceira da miscigenação de índios, colonizadores e negros. Quanto às “bravuras”, elas se aplicam as conquistas religiosas que não foram grande coisa do ponto de vista indígena porque elas trouxeram graves consequências para eles até os dias atuais. A palavra bravura não pode ser compreendida como fato heroico, mas como estratégia do governo como meio mais brando de colonizar os silvícolas por meio da fé católica.
No berço da tua história
A miscigena cultura,
De jesuítas bravuras,
O índio, o afro, o colonizador.

O refrão faz uma alusão à praga da peste em 1911 que estimulou a vida de São Roque para a paróquia devido a um suposto milagre realizado por esse “santo”.
Em que estende o teu esplendor.
Sê de Deus criador,
- Na peste vencedor –
O louvor a Roque e a Conceição pura.

A estrofe de número quatro diz respeito às manifestações culturais do município, expressas pela confecção de peças usando argila, pesca artesanal, danças, bordado e alguns folguedos que não mais existem.
Exaltar a riqueza do barro,
Da pesca, da rizicultura,
Dos reisados, torés, pastoris,
Dos bordados, dos cocos, guerreiros.

Por fim, a última declama o amor do colegiense por sua terra, que fazem parte desse amor os que já se foram, os que estão e os que virão.
Acordar com o teu sol, numa canção:
De amor por ti.
E os teus filhos passados, presente e futuros...
Em tua noite irão sonhar e te eternizar.

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18 de abril de 2012

A pedra do meio

Bom Jesus dos Navegantes
A Pedra do Meio é um aglomerado de rochas que pode ser vista de várias partes do cais de arrimo na dr. Clementino do Monte e Pça. Rosita de Goes Monteiro. Do porto da delegacia fica a uma distância aproximada de cem metros. Ela tem um significado especial para o colegiense. 
Esse significado tem valor folclórico. Segundo alguns pescadores, nessa pedra a Mãe d’ Água e o Nêgo d’Água costumavam aparecer, ficarem  sentados sobre ela. Quando avistavam a presença de humanos, desapareciam. É conhecida, também, como a morada de um peixe velho, chamado Camurupim que gosta de assustar os pescadores e reter os seus barquinhos.
Foi na gestão do ex-prefeito Eraldo Cavalcante Silva que essa pedra foi descaracterizada quando a implodiram e puseram a imagem de Bom Jesus dos Navegantes, tirando dela a beleza e a originalidade folclórica de muitos anos.
A Pedra do Meio foi cenário do livro O Povo das Águas, escrito por Ron Perlim, onde o autor reuniu as lendas mais conhecidas em um conselho para que deliberassem sobre a situação triste do Rio São Francisco. E por causa disso, alunos do povoado Caraíbas, da cidade de Canhoba, Sergipe, vieram conhecer a Pedra do Meio e o autor.

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14 de abril de 2012

Ufania no hino municipal


[1]“Jesuítas e os bandeirantes aos índios se deram às mãos”.

O autor do hino, Edivaldo Donato Mendonça, vacila quanto ao conhecimento histórico e canta, nesses versos, a ufania quando diz que os colonizadores e os silvícolas “deram às mãos”; trazendo-nos um discurso ideológico de “companheirismo e amizade” entre aqueles e estes.

Sabe-se, nos mais singelos resumos históricos do município, que a presença de bandeirantes e dos jesuítas não foi vista com bons olhos pelos índios; pois, além de lhes impor hábitos e costumes novos, provocou entre eles intensas guerras. Diz o resumo Histórico do IBGE:

“Os bandeirantes conseguiram aos poucos fixar as tribos indígenas nos arredores da sede, apesar das lutas renhidas (negrito meu), travadas, principalmente, entre os Cariris, moradores nas proximidades, os Aconãs e os bandeirantes recém chegados à região”.

Essas lutas desagregaram as tribos aqui existentes, tornando-as mais frágeis ao poder do colonizador; já que estes possuíam armas mais sofisticas que os silvícolas. Mas não é esse o objetivo deste texto.

O discurso que se encontra no Hino, citado anteriormente, se contradiz com o que se segue; tornando-se daninho porque tenta impor a passividade para aqueles que ouvem a letra do Hino ou a escuta, tentando convencer que houve naqueles anos primeiros uma convivência harmônica celebrada entre silvícolas e colonizadores quando eles “(...) deram as mãos (...)”.

Não deveria, de forma alguma, esse Hino ter sido escolhido pela banca examinadora, já que se tratou de concurso público, sem aqueles versos. Eles são retrógrados, pueris e antiquados. 

Pecou a banca examinadora ao escolher um Hino com tamanha falta e cometeu tal disparate em não recomendar ao autor que corrigisse esse discurso ufano.


[1] Versos da letra do hino municipal de autoria de Edivaldo Donato Mendonça, escolhido pelo Fórum Dlis em 2003.

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