27 de fevereiro de 2017

Inauguração da Ferrovia Palmeira-Colégio (15 de dezembro de 1950)

Por Hadrianos da S.R.

O texto abaixo foi copiado do livro Palmeira - Colégio, do jornalista, político, comerciante e escritor
Boa Ventura Vieira Dantas (14/07/1896 - 04/11/1964), publicado em 1953. E representa o relato dele sobre a inauguração do trecho da Rede Ferroviária, entre Palmeira dos Índios e Porto Real do Colégio, no caminho de várias outras cidades alagoanas como Arapiraca, Olho d'Agua Grande, etc. Junto a descrição, duas imagens do momento da inauguração. Vale Ressaltar a força intelectual do Sr. Boa Ventura Dantas, que entre os anos de 1937 a 1950, fez do papel e da caneta suas armas para lutar pela
construção da linha férrea, projeto que segundo ele, foi pensado desde os primeiros anos de 1900, e que só pôde ser concretizado em 1950, estabelecendo um corredor de transporte do Rio Grande do Norte até o Sul do Brasil. A cidade de Propriá, desde 1915, já contava com uma linha ferroviária, que fazia a ponte até Salvador. Vários foram os textos publicados no Jornal "A Defesa" de Propriá, estando o senhor Boaventura entre os jornalistas da Associação Sergipana de Imprensa, sob a matrícula nº 166. É dele, inclusive, o projeto do feriado de emancipação política de Porto Real do Colégio, aprovado em 1948. Substantivas foram suas contribuições a esse município, contudo, nada a este legitimo colegiense foi dado em sua homenagem, infelizmente, essa cidade possui uma cultura de não preservar a memória de seus munícipes, ou pior, de só render homenagens a suas figuras mais obtusas, salvo raríssimas exceções.


De qualquer forma, a História trabalhada nessa fan page está aqui para resgatar parte das memórias que ainda não foram apagadas pela ausência de uma cultura cidadã. 
Segue abaixo o texto. Uma boa leitura.

XXXIII

E o sonho transmudara-se em aurifulgente realidade, realidade que empolga milhares de nordestinos do Rio Grande do Norte a Alagoas, sonho de importância capital para o nosso país, pois está praticamente ligada a formosa e brava região nordestina a todo o sul do nosso sempre querido Brasil.

Não só ao Rio de Janeiro e São Paulo, mas a todas as unidades meridionais e mesmo a um país visinho: o Uruguai, antiga Cisplatina, ex-Pronvíncia brasileira.
Eram 12 horas e quarenta minutos, quando garbosamente ingressava em nossa cidade, que se encontrava engalanada e repleta de enorme multidão concentrada nas imediações da estação e em todas as ruas da cidade, a locomotiva n. 315, atrelada à vanguarda de seis carros, sendo dois da administração, dois de 1ª classe, um carro restaurante R-8 e um de bagagens, fedendo o ar, a essa hora inúmeras girândolas de foguetes, apitando locomotivas, repicando os sinos centenários de nossa Matriz, como que, em nome de Deus, abençoando o festivo e histórico evento, tocando o Hino Nacional, e depois belíssimas peças do seu repertório a “Filarmônica Santo Antonio”, iniciando-se logo após o desembarque da comitiva que estava assim constituída: eng. Cornélio da Fonseca Júnior, chefe do Distrito Fiscal, do D. N. E. P.; eng. Lauriston Pessoa Monteiro, chefe do Distrito de Construção – 3, do mesmo departamento; coronel Braulio Guimarães, chefe da Comissão da Rede 7, do glorioso exército de Caxias; coronel Raul Malheiros, representando o comando da Zona Aérea; eng. Brito Pereira, administrador da Great-Western; eng. R. H. sub-diretor da mesma empresa nacionalizada; eng. Aquilio Porto, Chefe do Tráfego; eng. Lafaiete Bandeira, chefe de transportes; eng. Nacional; eng. Orlando Rocha, chefe de Obras Novas; eng. Emanuel Nazareno, chefe da Via Permanente; eng. Terence Hanson, chefe de Obras; Paulo J. Castilho e Nelson Miranda, engenheiros Assistentes da Diretoria; eng. Hélio Lobo, Diretor da “Estrada de Ferro Sampaio Correia” e eng. Humberto Torres da mesma Empresa; eng. Malta Cardoso, chefe de uma das firmas que forneceram material para a construção do trecho recém-inaugurado. 

Representando a imprensa do Recife vieram os jornalistas Paulo Couto Malta, Pela “Associação de Imprensa” e Diário de Pernambuco”, Dr. Carlos Luiz de Andrade, pela “Folha da Manhã” (Edições matutinas e vespertinas) e Gaston Manguinho pelo “Jornal do Comércio”, “Diário da Noite” e Rádio Jornal do Comércio”, representantes do “Jornal de Alagoas” e “Gazeta de Alagoas”, da capital alagoana, jornalistas Correia Lima e Ernesto Aminthas, respectivamente; representaram a Imprensa sergipana os jornalistas Jaime Laudario, José O. Carvalho, Antônio Tavares, Edgar Vieira de Lima e Josias Nunes, do corpo redacional do “Correio de Propriá”, Deputados Joaquim Viegas e Pe.
Medeiros Neto, da bancada federal alagoana. Após a chegada realizaram-se as cerimônias de leitura e assinatura da ata, seguidos de vários discursos. 

Em nome do Prefeito do Município falou o nosso prezado confrade Dr. Josias Nunes.
Em seguida falou o eminente alagoano Dr. Joaquim de Barros Viégas, que foi grandemente ovacionado e, em nome da imprensa de Pernambuco e do das Alagoas, o jornalista Dr. Carlos Luiz de Andrade.

Logo depois rumavamo-nos para o local em se realizara o formidável banquete de 240 talheres, que o grande eng. E patriota, êmulo do Barão de Mauá, Dr. Camilo Collier, chefe da renomada E. C. C. C. Ltda., oferecia às autoridades, jornalistas e convidados, onde ao champagne o eng. Adhemar Benévolo, em nome do D. N. E. P., fez um brilhante discurso, perorando com as seguintes frases: “Bebo a saúde do Rio São Francisco. Elevo a minha taça em louvor de sua honra, de sua glória, de sua grandeza e de sua majestade”. Em nome do Prefeito local falou mais uma vez o nosso estimado confrade Dr. Josias Nunes.

Após, falou eloquentemente o talentoso eng. Dr. Camillo Collier, que focalizou a sua, dele, luta em prol da construção da estrada recém-inaugurada, tecendo um hino de louvor aos humildes “cassacos”, agradecendo o apoio dos governos federal, estadual, da bancada alagoana, da imprensa Nordestina, do povo da região beneficiada. Perorando, rendeu um comovente preito de homenagem ao crepe e à saudade, recordando a figura do grande e saudoso eng. patrício Gordilho de Castro, aquele que já do seu leito de morte, procurando conhecer do andamento das obras de ligação Palmeira – Colégio, deixou sair de seus lábios esta frase, sintetizando o seu amor, o seu grande amor à obra que tanto ajudou a
crescer: - “Lamento morrer e não ver concluído aquele trecho”. 
Depois falaram brilhantemente sobre o feliz e renomado evento os grandes oradores e parlamentares alagoanos, Deputados Pe. Medeiros Neto e Dr. Joaquim de Barros Viégas, os quais foram delirantemente aplaudidos.

Encerremos com o presente artigo a série que iniciamos há quase dois decênios, tendo por objetivo a ligação ferroviária entre o nordeste e o extremo sul do meu país, como n’um caloroso abraço representativo do progresso e da união entre filhos de uma mesma Pátria, até então desconhecidos ....

Ao eminente estadista Dr. Getúlio Vargas, aos generais Pedro Aurélio de Góes Monteiro e Eurico G. Dutra, o Presidente imortal, à bancada alagoana, aos Drs. Camilo, Pedro e Luiz Collier, deixamos aqui consignada a nossa eterna e imorredoura gratidão, em nome do povo, do bravo, dinâmico e bom povo Nordestino.

Colégio, Alagoas, 15 de dezembro de 1950.